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Opinião

Gregos, baianos e a eleição da OAB-PA

Por João Batista Vieira dos Anjos*

Pensamento!
Mesmo o fundamento
Singular do ser humano
De um momento, para o outro
Poderá não mais fundar
Nem gregos, nem baianos.

(Gilberto Gil, Tempo Rei)

As últimas semanas que antecedem as eleições da OAB-PA, que poderiam ser usadas para esclarecer dúvidas, apresentar propostas, defender ideias e até mesmo convencer o eleitor a comparecer às urnas, não têm sido aproveitadas da maneira mais correta pela chapa de oposição.

Apesar das evidências de que ninguém tolera mais a política de baixo nível, ao ponto de pesquisas indicarem em todo o país a rejeição do eleitor aos métodos de ataques usados exaustivamente em campanhas eleitorais, ainda há aqueles que não conseguem interpretar os sinais. E pior. Importam essa forma chula de disputa para o meio daqueles que deveriam ser, por princípio e dever de ofício, os defensores da verdade e da ética.

Advogados e advogadas paraenses vem sendo bombardeados nos últimos dias por Fake-News divulgadas e disparadas profissionalmente, por números anônimos de celular, via Whatsapp e Telegram. Foram várias frentes de ataques: Perfis falsos nas redes sociais, vídeos, áudios, montagens, fotos manipuladas, entre outras, tendo como alvo o candidato Dr Eduardo Imbiriba, que vem se apresentando, propositivamente, como o virtual sucessor do Dr Alberto Campos à frente da OAB-PA.

A que se deve tanta agressividade? Quem ganha com a importação desse método que tanta vergonha e prejuízo tem trazido à democracia? Qual a origem desses ataques e calúnias? Quanto está custando isso e quem está pagando para que a honra e a conduta de um advogado com carreira ilibada sejam enxovalhadas nesse momento, num processo eleitoral que deveria correr como sempre aconteceu em nosso meio, com situação e oposição respeitando a trajetória e o nome uns dos outros?

A democracia é um sistema composto de “jogos de repetição”, o que quer dizer que os atores envolvidos aprendem a jogar conforme as regras do jogo a cada nova rodada. Se os advogados aceitarem passivamente que a campanha se transforme bate-boca rasteiro aditivada por baixarias, boatos e fofocas, e, além disso, mostrarem-se volúveis diante dos ataques, haverá um claro incentivo para que haja um nivelamento por baixo. A Chapa 10 poderia revidar, estabelecendo a partir daí um festival de contra-ataques que, embora fizessem todo sentido e fossem legítimos, colocaria em nosso meio, de modo definitivo, a baixaria como método e propósito em cada disputa eleitoral.

Nas eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos, diante do avanço de Barack Obama, comerciais televisivos divulgados pelos republicanos, ou por grupos a eles vinculados, apresentavam o senador negro como um sujeito que foi “abandonado” pelo “pai africano” e pela “exótica mãe branca” e que entregou-se na adolescência “à maconha e à cocaína”, defendendo o ensino de “educação sexual para crianças no jardim de infância”. Obama manteve-se sereno em seu propósito, sem revidar à baixaria do adversário em desespero.

Em 2016, Hillary Clinton e Donald Trump transformaram a disputa eleitoral em um festival de troca de acusações, que levou ao esgarçamento do tecido social e conduziu ao poder um candidato que tinha pouco apreço pela democracia e pelo estado de direito.

A importação de um grupo de marqueteiros baianos para a campanha da oposição vem sendo apontada como estopim da chuva de chorume que se tornou o whatsapp nesse momento. Não sabemos. O que sabemos, é que todos saímos perdendo com isso, exceto talvez aqueles que veem na democracia representativa um mero conjunto de expedientes políticos a serem gradualmente destruídos.

Voto na chapa 10 não apenas por confiar na continuidade do bom trabalho que vem sendo executado até aqui pelo grupo que reconstruiu a OAB-PA, mas também porque, ao fazê-lo, me manifesto de maneira veemente contra a mentira, nessa eleição e em todas, usada como método de disputa pelo poder.

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*OAB Pará 7770