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Poder

PSB se torna peça-chave para 2022, mas terá que resolver divergências ideológicas internas

Com a chegada de Dino e Freixo, partido amplia leque progressista, mas Tabata Amaral reforça espectro à direita da sigla

Lula entre, Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco, e João Campos (PSB), prefeito de RecifeA aliança de forças progressistas, sob o comando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para derrotar Jair Bolsonaro (sem partido) em 2022, passa pelo empenho do PSB em cooperar e abrigar políticos de espectros distintos para construir um palanque amplo na próxima eleição.

Nas últimas semanas, três novas filiações movimentaram o PSB e deram mais força ao partido, os deputados federais Marcelo Freixo (RJ) e Tabata Amaral (SP), além de Flávio Dino, governador do Maranhão. O cientista político Rudá Ricci elaborou um desenho das tendências ideológica dentro da legenda.

No Norte e nordeste e Rio de Janeiro, estão as forças à esquerda, principalmente com a chegada do Flávio Dino. No Paraná, o PSB está “completamente alinhado com a direita”. Em São Paulo, Márcio França e Tabata Amaral são trunfos da direita paulista. Em Minas Gerais, “o PSB é fechado com o grupo do (deputado federal) Aécio Neves (PSDB)”. No Rio de Janeiro, o Freixo puxa o partido para a esquerda.

“O projeto de sustentação política do (ex-presidente Luiz Inácio) Lula passa, obviamente, pelo PT, pelo PSB e pelo PSD do Kassab. O triângulo central do Lula deve ser esse. A partir dele, o Lula agrega outros valores. A grande questão desse novo PSB, articulado por Lula e Siqueira, é o Márcio França”, analisa Ricci, que vê a disputa em São Paulo como fundamental para os destinos do partido.

“Se você quebrar as pernas do Márcio França, você isola o PSB de Minas e do Paraná. Aí, você consegue entrar nesses diretórios e fazer um realinhamento do PSB. O Márcio França fica na gangorra, mas ele é de direita, não é alinhado com esse novo PSB. Será um jogo pesado dentro do PSB no ano que vem, será uma disputa muito violenta”, encerra.

Em São Paulo, França tem trabalhado nos bastidores para afastar o partido de Lula e do PT e levá-lo para próximo de um candidato idealizado como “terceira via”, mas sem um rosto ainda, a um ano da eleição. Para tanto, teria o apoio de Tabata Amaral e João Campos (PSB), prefeito de Recife (PE). Aliado de Lula, Carlos Siqueira, presidente do PSB, não quis responder às perguntas do Brasil de Fato.

Pernambuco se tornou um importante polo para a disputa do partido. Lula esteve no estado no último dia 16 de agosto, quando se reuniu com o governador Paulo Câmara (PSB) e João Campos. Assim que anunciou sua filiação ao partido, em 14 de junho deste ano, Freixo também foi visitar os correligionários pernambucanos.

Divergências

Em seu primeiro ano à frente da prefeitura de Recife, João Campos (PSB) enfrentou uma onda de protestos dos servidores por conta do projeto de Reforma da Previdência que apresentou, e foi aprovado, para o funcionalismo do município. Recém chegada ao partido, Tabata Amaral votou a favor da Reforma da Previdência do governo de Michel Temer (MDB), proposta rejeitada por partidos e polítcos de esquerda do país.

Para Marcelo Freixo (PSB-RJ), essas contradições não podem estar no norte do partido e nem da frente ampla que se forja para enfrentar Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição de 2022. Em resposta sobre o distanciamento ideológico de Amaral e Campos, o deputado federal afirmou que “é hora de buscar o que temos em comum, não o que nos separa”.

 “O debate da Reforma da Previdência começou no governo Lula. Foi, inclusive, o que deu origem ao PSOL, o racha dentro do PT. Então, se ficarmos, dentro da esquerda, com esse raciocínio de buscar quem é mais revolucionário e quem está mais à esquerda, o fascismo agradece e vence a eleição. É hora da maturidade e é hora de ter um pensamento mais adulto. No governo do PT, nós também tivemos protestos também, tivemos alianças muito mais à direita que foram defendidas pelo PT, quando eu nem estava. Mas o que adianta ficar remetendo a isso?”, questiona Freixo.

Para o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), filiado ao partido desde 2017, o Congresso do PSB, marcado para abril de 2022, determinará a união das forças divergentes num mesmo projeto.

“A sigla vai aprovar um novo programa partidário. Nosso programa tem 74 anos, é um programa honroso e digno, mas está ultrapassado. Esse programa atualizado, sendo aprovado agora, necessariamente terá que ser o centro de convergência de todo o partido. Não adianta aprovarmos esse programa agora, as pessoas se elegerem com esse programa em 2022 e não agirem de acordo com ele depois de eleitos”, alertou.

Freixo acredita que, independente das posições individuais dos membros do partido, haverá adesão ao projeto “de uma frente política para derrotar o fascismo”. “A tendência do PSB é caminhar com o Lula, eu defendo o apoio ao Lula e a construção de um programa e um governo de uma frente ampla, democrática e que traga todas as forças democráticas que possam dar governabilidade ao Lula. Eu acho que o Rio de Janeiro está mais consolidado, com PT, PSB, PCdoB e Rede unidos.”

Assim como Ricci, os deputados acreditam que a decisão de Márcio França em São Paulo é a peça que falta no tabuleiro anti-Bolsonaro. “Em São Paulo esse xadrez está mais delicado. O Haddad tem conversado bastante com o Márcio França e acho que São Paulo pode ser definido a partir de uma aliança nacional também, a configuração dessa aliança pode ajudar São Paulo. Isso depende das alianças que o projeto Lula venha a fazer e da escolha do seu vice”, defende Freixo.

Molon, que deve ser candidato ao Senado em 2022, acredita que o PSB deve ter candidatura própria na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes. “Eu acho que o Márcio França pode ser candidato a governador em São Paulo. Hoje mesmo, li que o (Geraldo) Alckmin pode ser candidato ao Senado. Num cenário desse, é possível.”

Na última quinta-feira (30), a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, noticiou que o PT quer um acordo com Geraldo Alckmin (PSDB). O ex-governador desistiria da corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, deixando o caminho aberto para Fernando Haddad (PT), que seria a principal força contra o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que será o candidato de João Doria (PSDB), atual mandatário no estado.

Ainda de acordo com a nota, em troca, o PT lançaria um candidato com baixo potencial ao Senado, para facilitar a ida de Alckmin, que sairá do PSDB, à Brasília. Nesta sexta-feira (1), o ex-governador desmentiu Bergamo e, através de um aliado político, o ex-prefeito de Santos Paulo Barbosa, garantiu que disputará o governo de São Paulo.

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Brasil de Fato