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Opinião

A saída de Moro e o sumiço de Guedes impactarão em cheio as relações exteriores do Brasil

A saída de Moro e o sumiço de Guedes impactarão em cheio as relações exteriores do Brasil. Os dois fizeram parte de um pequeno grupo que dava ao governo Bolsonaro um verniz de respeitabilidade no exterior, crucial para aqueles lá fora que defendiam laços estreitos com o Brasil.

Os dois fizeram diferença porque governos estrangeiros nunca levaram a sério a patética trinca diplomática de Bolsonaro – seu filho Eduardo, o chanceler Ernesto Araújo e o assessor Filipe Martins. Moro, Guedes, Tereza Cristina e Mourão preencheram o vácuo na política externa do Brasil.

Com a saída de Mandetta e Moro e a possível saída de Guedes, o triângulo belicoso do governo Bolsonaro (1. os olavistas, 2. os generais e os 3. tecnocratas neoliberais) agora se transformou em uma batalha entre apenas 2 grupos: os olavistas e os generais.

Não é por acaso que Tereza Cristina, resquício do grupo 3 e defensora de laços estreitos entre o Brasil e a China, virou alvo de críticas de Carlos Bolsonaro, porta-voz virtual dos olavistas, e Paulo Guedes sofre um processo de fritura promovida pela TV Record.

A péssima gestão do presidente da crise diplomática causada pelos incêndios na Amazônia mostrou a importância do grupo 3 para reduzir os danos. Foi por meio da ala tecnocrata liberal, preocupado com as exportações brasileiras, que governos e ONGs internacionais buscaram dialogar.

Com o colapso do grupo 3, restam menos bombeiros com o cacife e os contatos internacionais para desfazer o estrago que o presidente vem fazendo. Quem perde são políticos em Paris, Pequim e Buenos Aires e outras capitais que defendem manter laços estreitos com Brasília.

Diante desse novo cenário, a ratificação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia torna-se menos provável, e a adesão do Brasil à OCDE pode demorar ainda mais.

*Professor de Relações Internacionais na FGV em São Paulo. Autor do 'Mundo pós-ocidental'. Globonews, colunista do EL PAÍS & Americas Quarterly